sexta-feira, 18 de março de 2016

Um neguinho chamado Elias.


No fim do segundo campeonato da secretaria de esporte de São Paulo, o Raimundo Thomé (organizador), chamou as 4 equipes, que na opinião dele, eram as mais competitivas, para um torneio no CDM de Pirituba.
Meu Dínamo estava entre eles, o time que ainda estava em formação, foi pro evento, sem qualquer intuito de sagrar-se campeão da competição, já que era um passeio, os guris brincaram muito na piscina olímpica, até eu entrei na brincadeira.
Meu amigo, seu Francisco, da Nova Tietê, que não descansava nunca, levou um time afiado, disse que tinha um neguinho que jogava muito, ele era da favela da Funerária e ia jogar com a camisa 8.
Chamei os meninos na piscina, pra que eles fossem jogar contra o time do Chaparral, vestiram os uniformes o ganharam o jogo fácil, quando o arbitro apitou o fim do jogo, eles já estavam correndo, pra se livrar das roupas e pular na piscina.
Acompanhei-os e o time do seu Francisco ficou pra jogar com o time da Vila Prudente.
Lá pras 16:00 horas, os 2 finalistas foram chamados à campo, pelo arbitro da Escolinha de Arbitragem, Sálvio Spínola Fagundes Filho, tudo certo, jogo de cachorro grande, o Lagoa e o Kiko, mandavam no meio de campo, o Tio Chico Guedes, o mineirinho Borges Walacy e o meu filho Victor Luther Vitorino, faziam uma parede de volantes, os laterais Erasmo Anderson e Jose Gonçalves, avançavam e cobriam a zaga, os atacantes Rodriguinho, Robinho e Damiao Filho estavam em tarde inspirada.
De fato, o tal neguinho jogava muito mesmo, por vezes, desorganizava meu time, mas, como estava sozinho, prevalecia a força do meu grupo, viramos o jogo vencendo por 1x0, gol de falta do Erasmo e na virada, a primeira baixa, o mineirinho não tinha mais condição de jogo, havia apanhado muito.
Mas, estávamos calmos, só se acontecesse um milagre, pra gente não ganhar o troféu...
O Cingabol era um campeonato, disputado por comunidades carentes, afim de evitar a violência, a Secretaria distribuía Kichutes, pra não se usar chuteiras com cravos, portanto, saímos de casa com nossos Kichutes, quando chegamos em Pirituba, descobrimos que só o nosso time havia cumprido a regra, todo mundo usava chuteiras, os meninos da Nova Tietê, vieram com chuteira com birro de alumínio.
Voltando ao jogo, um gol no placar e um jogador machucado, ainda assim dominávamos o jogo, o tal do neguinho batia até na mãe, o Robinho teve que sair, mais uma vítima do tal neguinho.
Fazia um bom tempo que não chovia em Sampa, quando nuvens negras se formaram em nossas cabeças, ninguém levou em conta, sem aviso, o céu desabou, quando fui acudir o Guina em campo, pedi pro juiz parar o jogo, a visibilidade era de 1 metro, levei meu jogador pra fora de campo, o campo de Pirituba tem tamanho oficial, mas não é gramado, seu piso lembra a argila cinza, não demorou muito e virou sabão, os meninos do Dínamo patinavam, os adversários viraram o jogo, antes da partida, tivemos mais 2 baixas, o Kiko e o Victor, vítimas do tal neguinho.
No fim, perdemos o jogo, mas, isso foi um divisor de águas, essa raça passou a ser a nossa marca, depois disso ganhamos o título regional sem perder uma partida.
Cumprimentei o 8 deles, mas a mágoa mesmo, só sumiu quando soube que o Corinthians o havia contratado.

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