sexta-feira, 18 de março de 2016

Deus é justo


A vida toda tenho tentado passar pros atletas a noção do jogo limpo. A amizade entre eles, sempre foi o que diferenciava o Dínamo das outras agremiações e, é claro que isso sempre atraiu a inveja dos rivais.
Eu dizia sempre: "não provoque uma briga, mas, se entrar numa não saia”. "Se um adversário for desleal, dê um olé, ele não vai dar a segunda pancada”. "Trate o adversário com respeito, pois sem ele não há jogo".Lógico que isso não evitou quebra-paus memoráveis e, por vezes, tivemos que sair dos jogos escoltados.
O fato é que, sempre jogávamos limpo e todo mundo sabia que podia contar com isso, era a nossa marca.
Quando eu estava tranquilo, tinha alguns jogadores emprestado para a escolinha do Marcelinho e para o Corinthians fui convidado a levar um time no campo do Magnólia, o combinado era, um time de jogadores nascidos em 89, tudo certo...foram convocados o 
Alessandro Diniz, o Gugu, o Luizinho, o Paolo, o Cacá, o Miller e todos os pivetinhos.O Victor Luther Zeus, que estava emprestado, foi me acompanhar, acompanhar o pai.O Amaral, que tinha fama de ser pedófilo, estava nos preparando uma armadilha: veio à campo com um time de uma categoria superior e convidou uma torcida uniformizada para assistir o jogo.Como o time dele era projeto da Escola de Samba Flor da Vila Maria, que era dirigida pelo Corinthians, era a chance para ele ganhar nome, pra isso ele convidou o presidente da Escola.Estava tudo montado, o circo pronto e, nós seríamos os palhaços.
Diante do desastre eminente, O Victor e o 
Lucas Guilherme, que também nos acompanhava, se ofereceram para jogar, assim a humilhação seria menor, ainda que os adversários fossem mais velhos que eles e tivessem treinamentos de clube profissional.Ainda lembro do olhar do Gugu, que tentava esconder no calção, a camisa que lhe batia no joelho...olhou, que o outro time, viu que eles eram o dobro de seu tamanho e sorriu, um riso desafiador.E, assim fomos pro jogo, com a ideia de massacre, seria fácil evita-lo, era só abandonar o jogo.Mas, como se vive, evitando o confronto????
O Victor e o Lucas ficaram na defesa. Fácil, fácil tomamos os primeiros 3 gols, sem fé, eu coordenava os meninos em campo, sol escaldante no rosto, e tome gols.Num lance isolado, o Novinho, que não media mais que 1 metro e 20 centímetros, domina uma bola, pedala e a enfia no meio das penas do volante, vem mais 2 marcadores em fila, com uma habilidade incrível, ele os finta e sai na cara do gol, quando o goleiro cai na sua frente ele toca da lado, o Luizinho só tem o trabalho de empurrar pra dentro do gol.Notei que a torcida gritou mais que eu, o brasileiro tem essa coisa de torcer pro mais fraco.Fiz a única coisa que se pode fazer, nessa situação.Chamei o time e disse: Esqueçam o placar, vamos dar show, os meninos deliraram e então começou um outro jogo.Aquele time pequeno, sabia brincar e a cada jogada plástica a torcida delirava, até os pais dos meninos do outro lado, torcia pros nossos meninos.
O juiz da partida não queria encerrar a partida, estava hipnotizado, só faltava pedir autógrafos.Quando o jogo acabou, o placar marcava 5 x 9 pra nós, e como eu disse o placar era o que menos importava.Ver o show foi mais bonito.O presidente da Escola veio me cumprimentar e dizer que acabara de despedir o Amaral, perguntou se eu não estava interessado no cargo, eu disse não.
Na volta paramos num parquinho, pros meninos brincar.

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