terça-feira, 5 de abril de 2016

"Descobri que além de ser um anjo,


Eu tenho cinco inimigos ““...
Nunca julguei o caminho de ninguém, no entanto, trilhei o meu e tentei passar aos meus comandados o caminho que eu julgo certo e, creio ter feito a diferença, não como um fanático e sim pelo simples fato de ser o certo a fazer, sem esperar nada em troca.
Quando cheguei à Chácara Bela Vista, tomei de assalto o comando do esporte, se não o fizesse, pessoas de má índole o faria.
Andei por todos os blocos, à cata de meninos, pra provar que praticar esporte seria mais lucrativo que ser aviãozinho do tráfico.
No recrutamento, um pai me disse:
_Não quero meu filho envolvido com essa gente do futebol, não presta essa gente do futebol.
Argumentos eu tinha, só não quis discutir e relevei, a opinião das pessoas deve ser respeitada.
Juntei esses meninos com os que já eram do time e aos meus filhos, dei a eles ensinamentos da vida e provei pra eles que heróis de verdade eram seus pais. o Dínamo passou a representar o bairro e, se nada funcionava e não havia condições, assim mesmo, nos tornamos exemplo de lealdade e correção, a ponto de todos os moradores torcerem por nós.
Os anos se passaram e uma epidemia se alastrou pelo bairro, a droga e o crime mostraram sua face horrenda.
Numa tarde de sábado, eu no meu comércio, por não haver jogo, quase todos os meninos estavam em frente da minha banca, ouvindo Rap.
Aquele pai, que anos antes havia me repelido, me chamou de canto.
_Eu sei que fui cretino, mas descobri que a única turma que não tem envolvimento com as drogas é justamente a turma do futebol, meu filho anda por aí sem rumo e eu queria que ele fosse feito os seus meninos.
Ainda que, soasse como vingança para mim, essa é uma situação que não me alegra ter razão, aquele menino, por ignorância do pai, já havia se perdido.

terça-feira, 22 de março de 2016

Uma do Lula

Era chamado de Lula, mas seu nome é Edemilson José Silva, grande colaborador e amigo e, às vezes jogava no gol, mas era zagueiro mesmo. Dessas pessoas alegres, que fazem um passeio valer a pena.
E foi num passeio, ou melhor, num jogo do campeonato da favela São Remo, no Rio Pequeno (Butantã) que aconteceu a máxima. Era um jogo classificatório do torneio, mas, por ser um feriado, a partida ganhou status de festival, ou seja, quem vencesse levava um troféu. Aquele time, que tinha Alemão, Dener, Lucas, Edson e etc., já estava se tornando imbatível e o adversário era a Ponte Preta do bairro do Bonfiglioli.
O Lula era muito alto para a idade dele, dava certo temor nos adversários, mas isso, até ele começar a brincar, e, nessa partida ele estava desocupado, nosso time jogava muito e a bola mal chegava à nossa área, e fácil chegamos à vantagem de quatro x zero, tudo muito normal, até conversávamos entre nós e ele, é claro reclamava de estar sem fazer nada. Tudo indicava que não aconteceria nada de mais, até que, quase pra encerrar o tempo, o técnico da Ponte pediu pra substituir o centroavante.
Tudo normal, a não ser o fato do substituto ser um guri, que não media 1 metro e meio de altura, desses garotos que fácil ganham o apelido de Cafu, típico pretinho com cabelos de índio, o calção dele batia nas canelas, foi engraçado ver ele entrar em campo, ainda ajeitando a camisa tamanho grande e foi muito mais engraçado, quando ele se posicionou na meia lua da nossa área, onde se posicionam os atacantes.O Lula(pra fazer graça) saiu da área pra marcar ele de perto.
Sai de perto desse guri_gritei, já sentindo o perigo eminente.
O Lula passou a conversar com o garoto, uma cena digna de comédia pastelão, um gigante e um anão, lá no banco, nós riamos.
Perdemos a bola no meio, o volante jogou a bola com muita força para o ataque, muito forte para o diminuto atacante...num lance de habilidade, o guri esticou a perna e amorteceu a bola com a perna esquerda, a bola ficou ali, parada a seus pés, do nada, com a perna direita bateu de leve e ela subiu, o Lula, que estava ainda perto esticou-se, não adiantou nada, a bola já havia o encoberto, o pequeno já a esperava do outro lado, dessa vez não a amorteceu, deu um leve toque e ela tornou a subir, antes de ela cair, virou o corpo e bateu nela, de voleio.
Já viu 2 times comemorando um gol???Pois, foi isso que aconteceu a seguir.
Maravilhados com o lance aplaudimos o guri, nossos jogadores abraçavam e cumprimentavam como se fosse gol nosso.
No fim do jogo, o Lula entregou nosso troféu pro Cafu.

sexta-feira, 18 de março de 2016

Malandro é o gato


Já estava me preparando pra me despedir da zona Leste, de malas prontas, em pouco tempo, iria para a Chácara Bela Vista. Normal, que nesse tempo eu tivesse dado uma pausa nas atividades esportiva, portanto, deixei o Dínamo em espera.
Foi nesse tempo, que me convidaram para cuidar do primeiro quadro do Unidos do Morro, aceitei o convite, pra provar(pra mim mesmo) que não era um treinador do infantil, posto que, algumas pessoas, assim me rotulavam.Acompanhei o time, durante duas partidas, pra estuda-lo.Convoquei pra minha assistente, a inoxidável 
Alessandra Zaffani, pra me acompanhar nessa aventura.Assistimos as partidas e, observei que, apesar de ser muito forte, em termos de valores individuais, não tinha qualquer noção de continuidade e padrão de jogo.Apesar de ter oTchesco Nascimento e seu irmão Carlos Alberto no meio de campo, faltava organização e, apesar de começar ganhando os jogos, terminava cedendo o empate e terminava por perder os jogos.Ah, ainda tinha o problema de hierarquia, todo mundo se julgava apto a comandar.Logo que cheguei, pude ouvir, de um dos jogadores do segundo quadro, a seguinte piadinha:O que um técnico de crianças veio fazer aqui??Pilhéria, que eu fiz não ter ouvido... melhor mostrar, que bater boca.
Bom, ficou combinado que eu assumiria o comando na terceira partida e, seria num festival em Carapicuiba-SP, na COHAB 5, contra o imortal Avaí.
Bem...quem não sabe nada da Várzea de São Paulo, não faz a menor ideia do que eu estou falando, o citado time já era grande, quando nos anos 70, a Copa Kaiser, ainda era chamada de "Desafio ao Galo" e, era transmitida pela Rede Record, com narração de fausto Silva, todo domingo. De manhã. Isso...e, estava eu, na primeira e maior COHAB do Brasil, no campo do "BICHO PAPÃO", faziam 8 anos que o primeirinho deles não sabia o que era derrota.8 anos sem perder pra ninguém.
Técnico de crianças ???Fica aí!
Logo ao chegar, fomos recebidos com vaias e intimidações. Olhei pra Alê e ela estava tranquila, sempre me impressionou isso nessa menina, em casos que muitos homens afinavam, ela pelo contrário, se impunha...a espetacular Alê.
Infelizmente, as pessoas não estudam os adversários, eu era a única pessoa que conhecia a historia do Avaí, o segundinho entrou em campo e, jogou, de igual pra igual.Melhor dizendo...tentou jogar (na verdade, nem viu a cor da bola)quando caminhávamos para o vestiário, encontramos os jogadores do segundinho, vindo cabisbaixos e o técnico gritou:Esse nós ganhamos de 8 x 0, o primeiro vai de 16, disse isso e cutucou meu peito com o polegar, se eu estivesse na minha casa...mas eu estava na COHAB 5, tranquilamente olhei pra arquibancada, que esperava a reação: Bom nesse caso, a gente já pode ir embora, né???Vocês já ganharam e o jogo nem começou. Como quem se sente contrariado, o cara saiu da frente e me deixou entrar no vestiário.Lá dentro encontrei um time totalmente apavorado, uma bagunça, todo mundo falando ao mesmo tempo, só uma pessoa estava calma, o tal do Tchesco e, como ele me conhecia, estava esperando eu entrar em ação.
Pedi que me ouvissem, continuou a balburdia, pedi atenção de novo, nada.O Tchesco estava sentado e agora ria, havia uma cadeira na minha frente, dei-lhe uma bica, a cadeira voou e chocou-se contra a parede, os jogadores se assustaram e voltaram a atenção.Só quem fala aqui sou eu, estamos entendidos ???E como ninguém se manifestou, continuei... O grande problema aqui é o seguinte: todo mundo vem aqui, pra encarar esse time de nível profissional e, nós não somos profissionais, nós temos a pretênção de ser... então vai ser assim...excepcionalmente hoje, nós somos 10 volantes e 1 goleiro, defendemos o jogo todo e, quando chegar a hora eu aviso.
Basicamente era isso, nós iríamos defender, o time todo, o tempo todo e, eu tinha um trunfo na manga.A Alê já me esperava no banco, pedi que atualizasse o relógio e me falasse a cada 5 minutos, subitamente me aparece o dono do time, o Gavião dizendo que apenas o técnico, mais 1 pessoa poderiam permanecer no banco de reservas.Na lata, eu disse tchau(de que iria me servir um presidente do meu lado???)
E, assim o Dínamo tomou o "comando" do Unidos do Morro...dois no campo e dois no banco.Começou o jogo, do jeito combinado, os caras jogavam muito mesmo...gritaram que o trio de meio-campo era da Associação Atlética Ponte Preta, mas o nosso time defendia e, tome bola pro mato.(Já viu esses times que o lateral esquerdo vira a bola no peito do lateral direito e vice-versa?)Acontece que o meu time gostou de fazer isso, teve uma hora que o nosso centro avante estava dando combate ao lateral adversário, na nossa área.Primeiro a torcida fez piada, chamou o nosso time de fazendeiros, eles tocavam a bola e nós a mandávamos pra fora.
Acabou o primeiro tempo e fomos para o vestiário rindo, a empáfia deles já não era a mesma.No vestiário todos fizeram silencio, pra me ouvir:-Muito prazer, meu nome é Nilton, a gente vai continuar jogando do mesmo modo, somos visitantes, quem tem obrigação de ganhar é o dono da casa, quanto mais o tempo passar, mais a obrigação de ganhar vai apertar a vaidade deles, e...até a hora que eu mandar, a gente não muda.Fechamos para gritar o nome do time e, já era outro time, um time com alma...o Tchêsco, ainda sorria.
Na saída do vestiário, o Gavião, por trás do alambrado me disse:-To começando a entender o que você está Fazendo, você é malandro. Antes que a vaidade me dominasse a Alê me socorreu, só o fato de ela estar lá, já me lembrava que eu era técnico do Dínamo, que significava "humildade", ela esfregava as mãos, como se antecipasse uma historia repetida, brilhavam, os olhos dela.
Começo do segundo tempo, empolgado com o desanimo do time da casa, nosso time vacilou, e o que parecia impossível aconteceu, eles fizeram um gol, e, por incrível que possa parecer, isso estava nos meus planos.Enquanto o nosso time levava a bola pro meio de campo, visualizei o Tchêsco e acenei com a cabeça, até aquele momento, nosso time mal tinha passado do meio de campo e, ninguém marcou o Neguinho, ele recebeu a bola e pariu em diagonal, com 3 toques, ele já estava na cara do goleiro, o goleiro que, durante a partida toda não tinha tocado na bola saiu, mas era o Tchêsco, quando o goleiro saiu a bola já lhe havia coberto.Jogo empatado.Quanto mais o tempo passava, mais vergonha crescia e, tome bola pro mato.Silencio na torcida, ainda que com um certo medo, os caras do segundinho torciam, medo porque estávamos na COHAB 5, os últimos minutos de jogo foram mais calmos, já que o fôlego deles acabou-se, era cômodo, pros dois time que a coisa fosse mesmo para os pênaltis, e assim foi.Nosso time já comemorava como se fosse vitória e, só aí apareceu o truque na manga...O goleiro Marcio, podia não ser grandes coisas como goleiro, era mesmo medíocre, mas, pra pegar pênaltis, não tinha melhor.Depois 8 anos de reinado, o grande Avaí de Carapicuíba, caiu.
O Unidos do Morro começava a ganhar um padrão de jogo, tive a grata satisfação de saber que o time do Gavião subiu tanto que conquistou a Copa Kaiser.
E pensar que tudo começou com um técnico de crianças, né !?!

Em memória

Não sou a pessoa mais indicada pra falar da morte, não por medo, é da vida que eu falo e lido com crianças, crianças e vida.
Não sou hipócrita pra achar que todos são santos, mas na infância todos são bons(alguns são mais ativos, é fato) mais tarde escolhem o caminho pra seguir, outra coisa que eu não faço, é julgar...bem ou mal...é tudo uma concepção.
Não quero falar de violência, vou fazer uma pausa e lembrar dos "meus meninos" e lembrar que muitas vezes foi a voluntariedade deles que fez brilhar as cores do Dínamo FA.
Gugo: Veio do Butantã e era irmão do André(Mirandinha) começou de zagueiro bastante tempo, tinha um temperamento explosivo e, era constantemente expulso de campo, mas era leal e amigo do seu time.Saía do time e sempre acabava voltando e não deixava o time na mão.
Seu maior momento foi no Criança-Esperança(Vila Carrão), depois de ter arrasado com o jogo, vestindo a camisa 8 e sabendo que o arbitro era policial bateu no peito e pediu pra ser expulso.
Dóca: Veio do Jardim Grimaldi, um goleiro de médio pra bom, amigo e fiel ao time e mesmo quando já estava na tal da vida louca, nunca deixou de honrar os tempos de Dínamo.Seu melhor momento foi na Penha, quando eu levei um time pra fazer exibição para um empresário do futebol, como não tinha tempo hábil pra procurar um goleiro juvenil, pedi que ele ficasse no gol, ainda que ele não tivesse a idade certa, boa praça que era, foi lá ajudar os amigos.Aconteceu um temporal antes do jogo, o campo era uma lama só, todos os meninos que eu levei pra observação jogaram mal.
Acontece que lama era o ambiente dele, ele fechou o gol, nem pensamento passou...no fim da historia, o empresário só queria ele.
Robinho: Era da Chácara mesmo, veio na peneira do terrão, pequeno no tamanho e gigante pra fazer gols, gostava também duma boa briga, disputou o primeiro Cingabol e sumiu, apareceu no terceiro, pra ser campeão, marcando o gol do título.
Seu melhor momento foi num jogo na Penha, ele jogava uma partida do time acima de sua categoria, os zagueiros tinham o dobro do seu tamanho, numa bola alçada na área, os zagueiro subiram, ele subiu mais alto, lá em cima ele dobrou o corpo e, de meio de testa, mandou a bola no canto oposto do goleiro.Diante dos olhos incrédulos de todo mundo, ele saiu andando, bateu no peito e disse:Eu sou foda, mesmo.
Rodriguinho: Também era da Chácara e veio junto com a turma do Bloco C, disputava a artilharia com o Robinho, teve jogo que, um tirou o gol do outro pra roubar a autoria e como o amigo, participou do primeiro Cigabol e voltou no terceiro, pra marcar o outro gol da final.
Seu melhor momento foi em São Matheus, na estréia do uniforme branco e preto, numa manhã muito inspirada do time todo, que venceu a partida por 17x1 , todo gol que ele marcava, pegava a bola e levava a bola pro meio de campo, pra que o jogo recomeçasse logo ao final do jogo disse: Fiz 5 gols, dava pra fazer mais.
Tomou uma piaba na testa...ele havia feito 8 gols.

Deus é justo


A vida toda tenho tentado passar pros atletas a noção do jogo limpo. A amizade entre eles, sempre foi o que diferenciava o Dínamo das outras agremiações e, é claro que isso sempre atraiu a inveja dos rivais.
Eu dizia sempre: "não provoque uma briga, mas, se entrar numa não saia”. "Se um adversário for desleal, dê um olé, ele não vai dar a segunda pancada”. "Trate o adversário com respeito, pois sem ele não há jogo".Lógico que isso não evitou quebra-paus memoráveis e, por vezes, tivemos que sair dos jogos escoltados.
O fato é que, sempre jogávamos limpo e todo mundo sabia que podia contar com isso, era a nossa marca.
Quando eu estava tranquilo, tinha alguns jogadores emprestado para a escolinha do Marcelinho e para o Corinthians fui convidado a levar um time no campo do Magnólia, o combinado era, um time de jogadores nascidos em 89, tudo certo...foram convocados o 
Alessandro Diniz, o Gugu, o Luizinho, o Paolo, o Cacá, o Miller e todos os pivetinhos.O Victor Luther Zeus, que estava emprestado, foi me acompanhar, acompanhar o pai.O Amaral, que tinha fama de ser pedófilo, estava nos preparando uma armadilha: veio à campo com um time de uma categoria superior e convidou uma torcida uniformizada para assistir o jogo.Como o time dele era projeto da Escola de Samba Flor da Vila Maria, que era dirigida pelo Corinthians, era a chance para ele ganhar nome, pra isso ele convidou o presidente da Escola.Estava tudo montado, o circo pronto e, nós seríamos os palhaços.
Diante do desastre eminente, O Victor e o 
Lucas Guilherme, que também nos acompanhava, se ofereceram para jogar, assim a humilhação seria menor, ainda que os adversários fossem mais velhos que eles e tivessem treinamentos de clube profissional.Ainda lembro do olhar do Gugu, que tentava esconder no calção, a camisa que lhe batia no joelho...olhou, que o outro time, viu que eles eram o dobro de seu tamanho e sorriu, um riso desafiador.E, assim fomos pro jogo, com a ideia de massacre, seria fácil evita-lo, era só abandonar o jogo.Mas, como se vive, evitando o confronto????
O Victor e o Lucas ficaram na defesa. Fácil, fácil tomamos os primeiros 3 gols, sem fé, eu coordenava os meninos em campo, sol escaldante no rosto, e tome gols.Num lance isolado, o Novinho, que não media mais que 1 metro e 20 centímetros, domina uma bola, pedala e a enfia no meio das penas do volante, vem mais 2 marcadores em fila, com uma habilidade incrível, ele os finta e sai na cara do gol, quando o goleiro cai na sua frente ele toca da lado, o Luizinho só tem o trabalho de empurrar pra dentro do gol.Notei que a torcida gritou mais que eu, o brasileiro tem essa coisa de torcer pro mais fraco.Fiz a única coisa que se pode fazer, nessa situação.Chamei o time e disse: Esqueçam o placar, vamos dar show, os meninos deliraram e então começou um outro jogo.Aquele time pequeno, sabia brincar e a cada jogada plástica a torcida delirava, até os pais dos meninos do outro lado, torcia pros nossos meninos.
O juiz da partida não queria encerrar a partida, estava hipnotizado, só faltava pedir autógrafos.Quando o jogo acabou, o placar marcava 5 x 9 pra nós, e como eu disse o placar era o que menos importava.Ver o show foi mais bonito.O presidente da Escola veio me cumprimentar e dizer que acabara de despedir o Amaral, perguntou se eu não estava interessado no cargo, eu disse não.
Na volta paramos num parquinho, pros meninos brincar.

Metodologia


Se, na postagem do Terrão, pareceu, aos olhos de alguém, que eu estava me lamentando por não ter condições e espaço físico, pra desenvolver meu trabalho, fica declarado nessa, o contrário.
De fato, aos olhos de muitos, pode ter ficado a impressão de que o terrão era sinal de pobreza, já houve caso de uma pessoa descer do carro e nos doar bola.
O que, ninguém, nem mesmo os meninos se deram conta é, que o terrão era um laboratório a céu aberto.
Quando o Zé Maria, o Tarcisio e os outros ex-jogadores, que administraram o campeonato da Secretária de esporte viram aqueles meninos jogando em alto nível, se espantaram, quando souberam que o Dínamo não tinha um Centro de Treinamento, onde se pudesse desenvolver tudo aquilo. O problema de não se poder jogar a bola pra lateral, fazia com que o time lutasse pela posse da bola, se os nossos atacante faziam gols em traves de metro e meio, o que eles fariam quando pegassem uma de dois e meio???Se nossos laterais eram rápidos, em 10 metros, o que eles fariam num campo aberto?
Cansei de levar jogadores pra outros times e clubes e, eles não ficavam devendo pra ninguém, em quase todos os jogos que disputamos, ao final do jogo, enquanto o adversário estava exaurido, nosso time sobrava e se tivesse mais jogo, a gente jogava.
Na Vila Maria, um pouco depois do campo do Magnólia, tem o campo da Estrela Brinquedos, creio que... no Jd Brasil, seu dirigentes marcaram um amistoso e fomos lá.
Chegando lá, tinha dois times à nossa espera, o de 14 e o de 16, eu só havia levado o de 14...falha na comunicação, culpa desse, culpa daquele e, pra não ter discussão, topei o desafio duplo, estabelecemos que seriam 2 tempos ,de 1 hora cada.
Eles mandaram pra campo o time de 16 anos, a ideia era chegar arrasando e finalizar com os menores, em grande estilo...mas, como diria o Barroso:Aqui é Dínamo.No primeiro tempo defendemos, jogava bem, o time deles, mas pesava a vergonha de serem mais velhos, pressionavam, nosso time em módulo de defesa.
Eles já estavam cansados, quando findou a primeira hora, meu time inteiro e se defendendo, termina o primeiro tempo, meu time vai descansar e o time deles muda todinho...eu não levei nem reserva.
2 x 2 no placar, o jogo recomeça, meu time se solta um pouquinho, mas permanece na defesa, conforme o tempo vai passando, a vergonha vai aumentando, quanto mais eles investem, mais a gente se defende.Conforme eu administrava a defesa, olhava para o time deles, que havia saído de campo, quando vi que eles já haviam tirado as chuteiras e, se encaminhavam pro vestiário, dei a ordem pro Lagoa sair da defesa, logo que ouviu a ordem, o Lagoa roubou a bola na intermediária, nosso time estava tão recuado, que o Lagoa, com 3 dribles já tinha deixado o beque caído no meio campo, ele rompeu a linha do meio, nada restava ao goleiro, só sair, o Lagoa avançou em cima do goleiro e eles estavam fora da área, o goleiro jogou-se, tarde demais...o Lagoa já o havia deixado pra traz e já comemorava o gol.
Na saída, podemos testemunhar o bate-boca, entre Os dois times.
Fomos pra casa, ia descansar, ouvi gritos vindos do terrão, olhei pela janela, vi os meninos que acabaram de jogar 2 horas, ia fazer uma piada pro meu filho, não o achei, olhei de novo pro terrão. É, ele estava lá.

Naldinho


Era um lateral esquerdo diferenciado, tinha força e categoria e era um grande ser humano.Fizemos um jogo para empresários observa-lo, no campo do Metrô Penha.
Encheu os olhos, antes do jogo terminar, já tinha o passe certo para a Inter de Limeira, era só se apresentar na semana seguinte.Mas, o destino tem seus reveses e nada na vida é garantido...e de noite, quando ele comemorava com os amigos, foi vítima de um tiro, numa estupida briga de quadrilha.

A vingança

Os mais espiritualizados dizem que a vingança é nociva pra alma, mas como eu nunca tive vocação pra santo, prefiro a máxima popular, que reza, "a vingança é um prato que se saboreia frio".
Na primeira geração do Dínamo, nos demos ao luxo de ficar 2 anos sem jogar em casa, vários desses jogos foram realizados em favelas, onde impera as leis locais, muitas vezes, apanha-se e não tem-se o direito do revide.Eu sempre disse, pros meus time:"Casa deles, regra deles"_ no caso do Dínamo, nunca foi bom negocio revidar...tinha sempre muita criança junto.
A "seleção" disputou um festival, certa feita, na favela do Jardim São Remo (Rio Pequeno-SP), fomos com os 3 times, o feminino, o infantil e o amador...que era chamado de SELEÇÃO.Nos 2 primeiros jogos tudo bem, vencemos fácil e levamos o troféu, como manda o figurino.Na mesa, quando ainda apresentava a ficha do time, encostou do meu lado, um jogador e me perguntou:Trouxe a sacola???
Um frio percorreu minha espinha, percebi que a partida não ia acabar bem e, como não fujo de briga, fiquei tranquilo.A partida foi de arrepiar, arbitro que só via o que convinha ao dono da casa, violência desproporcional, emfim, tudo que se cabe num bom processo criminal, 4 jogadores expulsos e, como havia sido prometido...goleada.
O cretino da mesa, atendia pelo apelido de Piuta, no finzinho do segundo tempo, já que tinha o placar elástico a seu favor e a vantagem numérica, resolveu tripudiar...tendo o gol livre à sua frente, sentou-se na bola, o Berruga, que vinha no embalo, chutou-lhe...tumulto, minha vontade primeira foi, subir o gaz dele, os meninos do infantil e as meninas estavam, do meu lado...pedi pro meu time ter calma.Encerrou-se o jogo, pegamos nossos troféus e fomos pra Avenida Rio Pequeno, esperar o ônibus do Nelcindo Diniz, pra ir pra casa.
Anos se passaram, o Dínamo mais forte que nunca, e ...sempre a sombra do passado assombrando.Pois é, como eu disse não sou uma pessoa muito espiritualizada, eu gosto mesmo é de guerra...e qual não foi minha surpresa no terceiro Cingabol, quando foi anunciado um novo time da zona Oeste.Chamava-se Real Parque e, adivinha quem era o técnico??? KKKKKKKKKKKKKK...o tal do Piuta.
Na reunião da Secretária de Esporte de São Paulo, passei por ele e ele não me reconheceu.Ficou decidido que, o campeonato seria realizado no módulo pontos corridos, o time que chegasse na ultima partida com o maior numero de ponto seria o campeão, medalhas, troféu e tudo que se tem direito.
Meu time já vinha no embalo e manteve a regularidade nas partidas, nos bastidores, haviam 2 favoritos ao título...O Dínamo e o Real Parque.
No dia da partida esperada, teve até participação especial, o Alisson, primo do Maciel Henrique, apareceu...só pra eu lembrar dos tempos do Butantã.
Quando chegou a hora de entregar os documentos, dos jogadores na mesa, era habito que a Stéphanie Victorino fizesse isso, pedi pra ela me dar a honra e, quando o técnico adversário acabou de conferir os papeis, eu falei, em tom baixo:
_Trouxe a sacola ???
Naquele instante, os olhos dele arregalaram-se...a ficha caiu.
Pra azar dele, meu time voava baixo, naquele dia os meninos estavam implacáveis.
8 x 1, sem choro nem vela.

Um neguinho chamado Elias.


No fim do segundo campeonato da secretaria de esporte de São Paulo, o Raimundo Thomé (organizador), chamou as 4 equipes, que na opinião dele, eram as mais competitivas, para um torneio no CDM de Pirituba.
Meu Dínamo estava entre eles, o time que ainda estava em formação, foi pro evento, sem qualquer intuito de sagrar-se campeão da competição, já que era um passeio, os guris brincaram muito na piscina olímpica, até eu entrei na brincadeira.
Meu amigo, seu Francisco, da Nova Tietê, que não descansava nunca, levou um time afiado, disse que tinha um neguinho que jogava muito, ele era da favela da Funerária e ia jogar com a camisa 8.
Chamei os meninos na piscina, pra que eles fossem jogar contra o time do Chaparral, vestiram os uniformes o ganharam o jogo fácil, quando o arbitro apitou o fim do jogo, eles já estavam correndo, pra se livrar das roupas e pular na piscina.
Acompanhei-os e o time do seu Francisco ficou pra jogar com o time da Vila Prudente.
Lá pras 16:00 horas, os 2 finalistas foram chamados à campo, pelo arbitro da Escolinha de Arbitragem, Sálvio Spínola Fagundes Filho, tudo certo, jogo de cachorro grande, o Lagoa e o Kiko, mandavam no meio de campo, o Tio Chico Guedes, o mineirinho Borges Walacy e o meu filho Victor Luther Vitorino, faziam uma parede de volantes, os laterais Erasmo Anderson e Jose Gonçalves, avançavam e cobriam a zaga, os atacantes Rodriguinho, Robinho e Damiao Filho estavam em tarde inspirada.
De fato, o tal neguinho jogava muito mesmo, por vezes, desorganizava meu time, mas, como estava sozinho, prevalecia a força do meu grupo, viramos o jogo vencendo por 1x0, gol de falta do Erasmo e na virada, a primeira baixa, o mineirinho não tinha mais condição de jogo, havia apanhado muito.
Mas, estávamos calmos, só se acontecesse um milagre, pra gente não ganhar o troféu...
O Cingabol era um campeonato, disputado por comunidades carentes, afim de evitar a violência, a Secretaria distribuía Kichutes, pra não se usar chuteiras com cravos, portanto, saímos de casa com nossos Kichutes, quando chegamos em Pirituba, descobrimos que só o nosso time havia cumprido a regra, todo mundo usava chuteiras, os meninos da Nova Tietê, vieram com chuteira com birro de alumínio.
Voltando ao jogo, um gol no placar e um jogador machucado, ainda assim dominávamos o jogo, o tal do neguinho batia até na mãe, o Robinho teve que sair, mais uma vítima do tal neguinho.
Fazia um bom tempo que não chovia em Sampa, quando nuvens negras se formaram em nossas cabeças, ninguém levou em conta, sem aviso, o céu desabou, quando fui acudir o Guina em campo, pedi pro juiz parar o jogo, a visibilidade era de 1 metro, levei meu jogador pra fora de campo, o campo de Pirituba tem tamanho oficial, mas não é gramado, seu piso lembra a argila cinza, não demorou muito e virou sabão, os meninos do Dínamo patinavam, os adversários viraram o jogo, antes da partida, tivemos mais 2 baixas, o Kiko e o Victor, vítimas do tal neguinho.
No fim, perdemos o jogo, mas, isso foi um divisor de águas, essa raça passou a ser a nossa marca, depois disso ganhamos o título regional sem perder uma partida.
Cumprimentei o 8 deles, mas a mágoa mesmo, só sumiu quando soube que o Corinthians o havia contratado.